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A música do Marco sempre esteve presente na minha vida. Em 2008, descobri que morávamos na mesma rua. Ele habitava uma pequena casa entre muitas árvores. Depois, soube que nosso aniversário é no mesmo dia, 10 de outubro. Fiz então uma pintura de presente para ele e deixei na porta da sua casa, com o recado: tentar retribuir o que sua música me traz. Assim aconteceu nosso encontro. Nos conectamos de maneira forte e bonita, no entendimento dos sentimentos de vida e de criação, em conversas intermináveis e ligados por um amor que chamamos ‘amor de arte’. 

Seus movimentos para realizar uma tarefa, seja doméstica, seja construindo um novo instrumento acústico, compondo uma música no teclado ou na marimba de vidro, são gestos mágicos de tão cuidadosos. Marco mostra que não é o virtuosismo o que permite criar, e sim a atenção ao que está ao redor. A potência não está na quantidade das notas, mas na forma como cada uma é tocada. Uma linha é também uma leitura sonora, um jogo do acaso é um método de composição, o desenho é uma partitura e acalmar a mente é um canal para formas misteriosas da criação.

As palavras que existem entre nós se arranjam como música e desenho. Elas falam de sensibilidade, anseios e encantos. Nossa troca de dias e dias, compondo anos de proximidade e amizade, ressoa de um jeito único em minha vida. Dizemos que nosso encontro ‘dez do dez’ cria uma sintonia que amplia o campo sensível, como respirar fundo. Não é à toa que Marco sempre me lembra da meditação: há algo tão simples e potente como respirar e manter a atenção nesse gesto? Ele sabe desse poder e com suas mãos cuidadosas e pensamentos inventivos cria encantamentos que nos convidam, com os sentidos atentos, a escutar o mundo.

Julia Baumfeld

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